Amparo Esportivo = Qual a emoção de voltar ao Recife e a
Ilha do Retiro depois de tantos anos?
Robertinho = Voltar em Recife, depois desses títulos todos,
é uma emoção singular porque, desde que eu fui jogador do Sport, eu não pude
mais voltar ao Brasil (referindo-se aos seus anos de trabalho no exterior),
mesmo com os convites que foram feitos para que eu participasse da festa do
título de 87. Então, é uma honra muito grande voltar a Pernambuco, a Recife e
em segundo lugar esse contato de novo com o clube que me ama e que me amou, e
que a recíproca é muito verdadeira, e que me identifiquei de uma forma que em
nenhum dos outros clubes que eu fui campeão, mas aqui no Sport é singular, essa
torcida do Sport e o carinho do povo pernambucano é algo singular. Eu te digo
singular, sab por que? Porque o
nordestino tem por natureza ser sincero e isso é uma coisa que eu gosto muito.
E eu sempre fui bem tratado e eu acho que essa identificação que houve na minha
época de atleta aqui foi uma coisa que teve sucesso, simplesmente, por uma
coisa fácil de entender: eu sempre fui um cara que honrei a camisa, sempre joguei,
além de ser um jogador de seleção brasileira, ser de alto nível, mas eu não
tinha frescura, eu era humilde, eu ia pro trabalho, tinha que ganhar, tinha que
fazer gol, a gente tinha de encarar os adversários, não tinha temor, tinha
prazer por jogar futebol, então por isso que eu me identifiquei com o Sport.
AE = Qual foi a primeira coisa que veio na sua cabeça quando
você botou o pé na Ilha do Retiro novamente?
R = A primeira coisa que eu pensei, que eu me lembrei de foi
da praia de Boa Viagem fechada. Imagina Copacabana fechada? Boa Viagem fechou.
Eram dois trios elétricos fechando, de um lado e de outro. E o trio elétrico
tocando e o camarote, nós, em cima do camarote, e um carro de bombeiro, todo
mundo passando, era só passeata, torcedor do Sport. Foi isso que eu lembrei,
foi uma coisa fantástica. Não tem como esquecer isso.
AE = Se a gente voltar em 1987, momento antes dessa partida
que foi tão importante para o Sport, o que é que passava na cabeça do
Robertinho jogador, minutos antes de subir no gramado, o técnico deu alguma
instrução ou era todo mundo na sua, concentrado?
R = Nesse momento não existe nada que possa te tirar do
foco. Se alguma coisa tira o atleta do seu foco em momentos que antecedem a
entrada, o início do jogo, esse jogador não tem “pedigree”. A nossa emoção e a
intensidade que nós queríamos ganhar é uma coisa intransponível, é uma coisa
que ninguém poderia barrar. Na minha cabeça tinha uma coisa só: nós vamos, nós
temos que ganhar por tudo que nós fizemos, com todas as injustiças que nós
passamos, é uma forma de nos valorizámos e mostrar o que nós somos aqui e do
que somos capazes, foi isso que passou nas nossas cabeças. Nós entramos e
ganhamos.
AE = E quando o árbitro apitou o final do jogo, qual foi a
sensação?
R = Após esse término, eu só me lembro que me colocaram no
alto, não sei quem, os torcedores invadiram o campo, me colocaram no alto e
começaram a dá a volta olímpica, só que, essa volta olímpica começou e a cada
metro percorrido, ela começou a aumentar e eu sei que ela terminou com
Robertinho só de sunga.
AE = Infelizmente, esse título de 1987 ainda é muito
questionado, ainda é muito querido pelo Flamengo. E qual é a sua visão sobre
isso?
R = Eu não vou entrar no mérito político entre entidade CBF,
Flamengo porque eu tenho uma história também dentro do Flamengo, só que eu vou
te responder da mesma forma que eu respondi a um repórter, no Rio de Janeiro:
Eu peguei a medalha de campeão brasileiro, que eu tenho na minha casa, e a
camisa e falei: Tá aqui amigo, o campeão tá aqui. Fui eu, pelo Sport. Alguém do
Flamengo tem essa medalha? Não tem, só jogadores do Sport. Não existe duas,
verdades, existe apenas uma verdade. Nós ganhamos em todas as instâncias e nós
ganhamos dentro de campo, que é o principal, e outra coisa: o Sport estava
ganhando de todo mundo, porque merecia. E nós estávamos aguardando o Flamengo
vim jogar, o Internacional vim jogar. O árbitro esteve em campo, o Arnaldo
esteve em campo e os dois times não apareceram. Por que eles não apareceram?
Ganhamos por W.O., não é nosso problema, se eles fosse melhor, tinham que vir e
mostrar. E para ter tira-teima disso ai, houve um jogo, no ano seguinte, no
Maracanã, entre Flamengo e Sport, qual foi o resultado? 1x1, Robertinho fez o
gol e o Bebeto fez o gol do Flamengo. Jogamos contra o Internacional, no Beira
Rio, já no outro Campeonato Brasileiro, quanto foi? Sport ganhou. É
incontestável!
AE = O Sport, além de ser importante profissionalmente, foi
importante no seu lado pessoal?
R = Mais é lógico!
AE = E daquele elenco de 1987, você ainda tem contato com
alguns jogadores?
R = A minha ausência do Brasil, praticamente 9 anos lá
(trabalhos como jogado e treinador fora do Brasil), onze meses eu trabalhava e
um mês eu vinha ao Brasil. Quer dizer, não dá tempo. Isso tudo me fez ausente
da minha raiz aqui. Eu tô tentando resgatar isso agora. Sempre que eu estou no
Brasil, eu tenho a maior satisfação. Já conversei com alguns atletas, meus
amigos. Betão, falar em Betão, tem que falar de Robertinho, se falar de
Robertinho tinha que falar em Betão, não tinha como. Até para sair à noite,
depois do jogos, quando era folga, saía Robertinho e Betão, porque ele falava
que gostava de batucar e eu falava que iria ser o segurança dele. Eu tenho a
maior satisfação de encontrar (os amigos), não são muitos, mas existe alguns
que marcam muito e a sinceridade desse relacionamento que tive com o Sport é
uma coisa inesquecível. E pessoas como Amaury, Adauri,
Claudemir, Ralph e vários diretores que foram importantes Branquinho,
Luciano Bivar, Romero, Dubeux, outros amigos como Luiz, Jarbas, Luciano Monte.
É uma séria de coisas, é inesquecível. Se eu falar que isso não foi importante,
eu estaria sendo hipócrita e eu não sou hipócrita.
AE = Qual foi a maior
diferença entre o Robertinho jogador e o Robertinho treinador?
R = Eu aprendi muito com os treinadores José Farias,
Pinheiro, Zagallo e Nelsinho. Todos esses foram ex-jogadores de grande nível e
que se preocuparam em estudar, porque tiveram a experiência dentro de campo
como jogador, que é primordial, e tiveram uma base científica para poder
transmitir com uma didática, aquilo que eles sabiam exercitar e executar, mas
transmitir isso ai de uma forma científica para o fácil entendimento. E isso ai
faltou, e falta, a alguns colegas. Acharam que o que fizeram como jogador era o
suficiente, não é o suficiente. Eu procurei seguir essa linha desses que foram
importantes para mim. Quando atleta, você depende de si, não depende de
ninguém. Se você quiser correr, você corre. Se você quiser fazer gol, você vai
e encara o zagueiro, entra na área e vai fazer o gol. Como treinador você não
pode, você tem que torcer para o cara fazer o gol e não errar, se não você é
que vai ser culpado. Essa é a grande diferença, é o grande risco que o
treinador vai correr.
AE = Se um dia chegar o convite, você treinaria o Sport?
R = Com o maior prazer. Eu acho que isso, até um tempo
atrás, eu acredito que já deveria ter acontecido, mas isso fica de lado.
AE = Qual a esperança para o jogo de amanhã?
R = A última vez que eu joguei contra o Corinthians, como
jogador, nós ganhamos de 1x0 e eu fiz o gol de pênalti. Coincidentemente, eu
estou aqui e o jogo vai ser contra o Corinthians. O astral, o ambiente, a
energia tá muito favorável para que isso aconteça. Eu tô torcendo muito para
que o meu time, o Sport, vença.
Repórter: Rodrigo Benson
Parceria: Amparo FM e Resenha Neles
Repórter: Rodrigo Benson
Parceria: Amparo FM e Resenha Neles
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